quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Viagem na maionese #3




Que tal uma passagem de ano cultural? Casa da Música, Fundação Serralves e Torre dos Clérigos são alguns dos ingredientes. 
Bom ano!



A morte está tão presente em nós quanto a vida, talvez um pouco escondida em formato tabu, dado a dor que causa, em oposição à miscelânea de sentimentos que sugere a vida.
Não sei se se aprende a lidar com a morte dos nossos, ou se a deve esperar-se para que o impacto não seja tão grande. Será isso possível, preparar-nos para a morte? Podemos passar o tempo todo a iludir-nos, mas certamente o momento tem sempre um impacto de uma brutalidade inesperada.
A morte angustia-me. E penso nela como penso na dor que me causou e vai causar. Mas não podemos contestar qualquer coisa que é inegável na vida: a morte, nossa e dos outros.
Esta época é essencialmente triste e sucintamente hipócrita. E é por isso que penso na morte.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Um vídeo por dia...#9 - Especial Video de Natal

Aqui está o meu contributo natalício para o blogue. O Natal para mim é ouvir Nat King Cole!
Bom Natal para todos.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ele escreve.
Tem um caderno preto, com linhas horizontais e verticais, que se cruzam. A caneta importa-lhe tanto quanto a forma como desenha as letras, a superfície tem que ser rugosa, o papel deve criar alguma resistência à passagem da tinta. São, talvez, idiossincrasias. A sua letra vem do antigamente, daquele tempo em que na escola se ensinava a desenhar as letras.
Escreve sem pudores, sem educação, sem métricas, regras ou conclusões. Tem um ar quase aristocrático, remexendo a barba, fumando sem saber das mãos. Os seus cadernos guarda-os sempre consigo, num saco que carrega para onde quer que vá. Organiza-os por datas, um para casa ano, talvez. Tem muitos, alguns queimou-os. Porquê, não sabe. O que escreve não importa, importa que escreve.

Ele é pobre. Não de espírito, mas quase na verdadeira acepção da pobreza, não tem casa, não tem poiso, ninho, um lugar onde voltar, um lugar quente, como nós. Mas escreve.
O que o fez não ter tecto? Gostava de saber. Como se chega ao limite de não ter o lugar que é nosso, onde repousam as nossas coisas? É tão inquietante: a pobreza.

Embora necessite não pede. Mas escreve, às vezes sem nexo, outras com tanto. E lê? Não. Então como escreve?

Fui desejar Bom Natal à Loja do Cidadão

As minhas regulares visitas a repartições de finanças e serviços afectos ao Estado têm, na maior parte das vezes, um aspecto trágico-comico que não posso negar, muito menos deixar de registar. Possivelmente esse carisma é de minha exclusiva responsabilidade e autoria, mas que fazer perante os factos, senão interpretá-los!?
Senão vejamos: a minha visita à loja do cidadão hoje era tão simples quanto o tempo que demorou, não menos do que 50 minutos, o que para loja do cidadão é uma média invejável; mas considerando a época festiva em que nos encontramos, penso que será um factor atenuante na súbita eficiência do dito estabelecimento.
Quando tirei a senha para ser atendida na repartição de finanças, o quadro marcava não menos que 20 números em relação àquele que estava impresso no papel (valioso por sinal) que me calhou.

Ok sento-me aqui e leio enquanto espero.

5 minutos depois... 

Aquela senhora tem um ar assustador, espero não calhar na mesa 6...

À medida que os números seguiam o seu curso habitual, o rebuliço continuava. Até que chegou o meu número: 229, mesa 6. Como sou uma miúda previdente já levava o BI e cartão de contribuinte na mão. Era só chegar dizer à senhora que queria abrir actividade, o nome da mesma e entregar os documentos. O nosso diálogo não poderia alongar-se muito mais. Dei a informação toda! 


O que a traz cá?

Boa tarde, venho abrir actividade.

Vou precisar do seu NIB?

Por esta é que eu não esperava, NIB?! O Estado agora quer controlar a minha conta bancária? Mas porque raio?
E não é que a senhora, que tinha um ar menos assustador do que inicialmente previ, ficou calada a olhar para mim?! Devia esperar por alguma reacção. Alguma reclamação talvez? Certamente não seria a primeira.

Olhe que eu não faço nada sem o seu NIB! 
Disse-me com um tom sarcástico não assumido.


E agora ria-se, mas ria-se porquê?


O multibanco é já ali,
apontando para um não-lugar, já que tive que dar umas voltas para o encontrar.

Então espere lá aqui um bocadinho que vou buscar o NIB...

E assim a deixei dirigindo-me ao multibanco.
A minha tendência em filas é muito clara, há sempre alguém à minha frente, quer seja no supermercado ou no multibanco que faz operações muito complicadas. A senhora deve ter pago umas três contas, tira cartão, põe cartão, tira cartão, põe cartão, e volta a por para ver o saldo. 

Quando voltei estava outro senhor a ser atendido, perante a minha estranheza, a senhora, perspicaz, decerto, com um sorriso estranho atalhou: não me esqueci de si. Pudera queria o meu NIB!
Quando me sentei fiz um gesto muito claro, com o NIB na mão, pedi-lhe uma explicação, quase chantagem, onde é que já se viu?! Chantagem com o Estado.
Ela tinha uns óculos muito modernos e um ar quase anafado que lhe dava uma suposta simpatia respondeu-me prontamente que era uma obrigação.

Pois mas uma obrigação não é uma explicação...

Por esta é que não esperava!

Hesitante... 

Olhe...

Sim...

Se ficar em falta nós vamos-lhe à conta! Contente?

Ah pronto, assim está melhor, uma explicaçãozita fica sempre bem. No antigamente é que não havia explicações.

Você sabe lá o que foi o antigamente...

Enfim. Saí de lá com o dever cumprido, sabendo que agora o Sócrates tem o meu NIB e se por algum motivo falhar, zás! Vai-me à conta. Terminámos a conversa a assinar uns papéis com a digna trabalhadora da repartição de finanças a tratar-me pelo meu apelido. O que no mínimo foi estranho, mas tendo em conta que há sempre qualquer coisa bizarra nestas visitas, tratar-me pelo apelido não foi o pior.



quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Evidências...

O feminino é masculino.
Não deveria ser o feminino...feminino?

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Um vídeo por dia...#8

Hoje apetece-me The Cinematic Orchestra, a banda que faz música para filmes imaginários...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O que se vê em Marte #8




Freedom Writers é um filme do início deste ano, muito parecido com o filme Dangerous Minds de 1995. É uma história baseada em factos reais, sobre uma professora que ao abraçar a sua profissão cumpre mais que a meta de ensinar, consegue seduzir os alunos a querem uma educação, uma instrução. Gostei deste filme não só porque percebo e sei que há professores capazes de seduzir os alunos, independentemente daquilo que ensinam; como muitas vezes as diferenças raciais e os desentendimentos que delas advêm são fruto de mal entendidos. E tantas vezes no meio dos conflitos que existem, há muito mais em comum entre as pessoas do que a diferença do tom de pele. Porque é mesmo verdade, nós somos mais comuns do que pensamos.

O Gosto dos Outros

Sobre o gosto há muito a dizer.
Em primeiro lugar temos o chavão:"O gosto não se discute", tal como muitos outros com os quais somos diariamente presenteados na Língua Portuguesa. Penso que há uma fronteira muito ténue entre a discussão do gosto, e a atitude de mutismo perante assuntos polémicos. Se falamos, não respeitamos. Se nos calamos não temos opinião.
A verdade é que o gosto define-nos mas se o discutimos, em última análise, estamos a questionar a nossa própria definição. Não será?
Haverá gostos melhores que outros? Acho que sim, até porque a minha sobranceria intelectual faz-me acreditar que o meu gosto é melhor do que o de alguns, e há gostos dos outros pelos quais tenho um enorme respeito, e outros, enfim, nem tanto.
Talvez os gostos sejam mais discutíveis quando há realmente um fosso de qualidade nas escolhas entre pessoas que se movem em meios idênticos, ou seja, se eu tenho um amigo que gosta de Tony Carreira é natural que discuta com ele a sua qualidade musical, a sua qualidade poética. Mas não estará ele no direito de gostar de Tony Carreira? Claro que sim. Mas uma pessoa que goste de Tony Carreira diz muito da sua audácia intelectual. Serei arrogante? Pseudo qualquer coisa?
Se prefiro a Bailarina de Miró ao Grito de Munhen há qualquer coisa em mim que o explica, se bem que olho para a arte não numa perspectiva estruturada, mas meramente intuitiva. Ainda que não ache mau gosto uma pessoa gostar do Grito. Mas em relação à música é diferente, se gosto Massive Attack e não gosto de James Blunt deve-se provavelmente ao facto de ter ouvido muita música até agora e perceber que James Blunt não tem apuro musical, não tem qualidade, não tem nada onde possa reconhecer o mérito. Mas quem gosta de James Blunt vê nele alguma coisa. Posso criticar?
O gosto dos outros é tão delicado quanto a sua discussão, por isso nunca conseguirei chegar a uma conclusão, a um ponto definitivo. Acho que sim, que se deve discutir, mas depois chegam-me uma certa de pruridos com os quais não sei lidar. Deve ter a ver com a forma como ponho a minha arrogância em causa.
E sim, sou arrogante.


E aqui ponho a letra de uma música do Tony, que escolhi aleatoriamente, é ou não um grande poeta, caramba!!

A sombra do adeus no teu olhar,Revela tudo o que eu estava a pensar,Não é preciso mais, já entendi É desta que te vais, sinto que sim.A s roupas arrumadas tu já tens E um carro à tua espera, sim eu sei E a porta vai-se abrir, e tudo acaba aqui Depois acabo eu sem ti também.(Refrão)Porque eu morro Se passa um dia só e não te vejo Nem oiço a tua voz quando chamar por tiComo é que eu vou viver, viver assimPorque eu morroSe acordo e tu não estás na minha vidaSem ter o que me dás, o que vai ser de mimPor certo vou morrer, morrer sem tiSem tiQuis por-me de joelhos a teus pés Fazer chantagem como tanta vez Mas nada me valia eu entendi Por nada deste mundo ficavas aqui Restou-me então fingir estar tudo bem Desejar-te o melhor que a vida tem E a porta se fechou, e então tudo acabou Como eu vou acabar sem ti também

PS: O título do post é uma clara alusão ao filme com o mesmo nome!

domingo, 2 de dezembro de 2007




A excepcionalidade de um escritor reside na invulgar forma como relata assuntos que nos são comuns, porque todos nós somos comuns uns aos outros. Esse relato é feito ou de uma perspectiva que nunca tínhamos pensado, ou mesmo recorrendo a artifícios que julgáramos conhecer mas nunca por nunca seríamos capazes de verbalizar. É por isso que há escritores excepcionais e outros que não resvalam o patamar da banalidade. E é isto que me faz gostar de alguns livros e de outros nem tanto.