segunda-feira, 27 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
terça-feira, 7 de abril de 2009
O que se vê em Marte #38
The Cinematic Orchestra @ Aula Magna
Foi uma Aula Magna quente e repleta de gente que recebeu a banda inglesa que tem uma mistura de sons essencialmente focados no jazz e na electrónica.
O que mais me impressionou no concerto foi ver que a banda, apesar de ter muitos elementos, toca muito bem e, esses mesmos elementos articulam-se na perfeição uns com os outros.
Nota negativa para os intervenientes de voz, que não sendo os originais não conseguiram imprimir um caracter às musicas da banda que são acompanhadas com letra.
De resto, um excelente concerto.
Foi uma Aula Magna quente e repleta de gente que recebeu a banda inglesa que tem uma mistura de sons essencialmente focados no jazz e na electrónica.
O que mais me impressionou no concerto foi ver que a banda, apesar de ter muitos elementos, toca muito bem e, esses mesmos elementos articulam-se na perfeição uns com os outros.
Nota negativa para os intervenientes de voz, que não sendo os originais não conseguiram imprimir um caracter às musicas da banda que são acompanhadas com letra.
De resto, um excelente concerto.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Em cabo Verde...
De volta de férias dei algumas voltas à cabeça para expressar o que esta viagem me causou. Depois de ler um texto da minha excelsa mãe nada melhor do que mostrá-lo aqui.
"A primeira impressão é o vento. Quem chega de madrugada ao Aeroporto Internacional Amílcar Cabral (dedução, pois parte do letreiro caiu), não se chega a sentir calor. O caminho até à carrinha que vai levar-nos ao hotel é aos ésses pelo empedrado. O que vale é que vai havendo um guia a cada volta. «Sejam bem vindos a Cabo Verde» – atira um deles, tomando o chão por pista de discoteca e dançando freneticamente dentro da roupa leve. Explica: «É por causa do frio».
Momentos depois, as portas da carrinha deslizam ligeiras, abrigando-nos do sopro da noite salense. De olhos muito abertos e sôfregos, procuramos na escuridão algo que identifique o local. Nada. São quilómetros de areia e pó, arbustos só no recinto do hotel. Alguns candeeiros ladeiam a estrada direita, a monotonia é apenas interrompida por rotundas a uma cadência regular.
No domingo, deixámos por conta de Mamadou o critério de uma volta à ilha: Palmeira, um local de ruas largas e também estreitas e onde só as centrais têm empedrado. O Salão Lena tem as portas fechadas, o que não é para admirar, pois é domingo e os poucos transeuntes atravessam-se à frente do jeep do nosso guia com a tranquilidade de quem sabe que ele vai esperar pela oportunidade para avançar. Sugiro um pensamento em voz alta, de que a vila se parece com o que terá sido Carvoeiro há uns 50 anos atrás. Não consegui o consenso da companhia, para quem Palmeira não se parece com lugar nenhum, a não ser consigo.
No Sal, senti-me sempre em casa. O bebé, cabelo encaracolado muito curto balouçou as pernas no assento improvisado dos meus braços. Não estranhou que uma visitante, agora mesmo entrada na loja de artesanato de chão de cimento, lhe tivesse pegado, sem motivo aparente. Conversámos os dois numa tagarelice incompreensível de monossílabos.
Ignorei os pedidos da Marta, receosa de que a anfitriã não achasse piada ao meu súbito assomo de saudades de pegar num bebé de colo. Mas a mãe dos dois pequenos (a menina gatinhava no chão) não pareceu incomodada com a inesperada manifestação de afecto. Guiou a Marta pelas prateleiras cheias de estatuetas de madeira nobre, iguais a tantas outras que existem nas lojas de artigos étnicos dos centros comerciais em Lisboa. Ia informando: 15 euros, 25 euros. A Marta pegava numa e trocava por outra, antes de se decidir, como se nunca tivesse visto artigo semelhante. Figuras femininas grávidas de fardos à cabeça, velhos alquebrados, instrumentistas musicais. Eu embalava o pequeno.
Mamadou, o guia, esperava paciente fora da loja, trocando frases soltas em crioulo com conhecidos locais. Estávamos em Palmeira, a manhã ia alta, celebrava-se uma missa campal no largo da povoação, à beira-mar. Pelo caminho, foi satisfazendo a nossa curiosidade em relação a um monte de coisas. Já confirmara que, na Ilha do Sal, todos se conhecem.
O nosso cicerone incluiu criteriosamente todos os locais de interesse da ilha no circuito. Murdeira e Buracona, onde mergulhadores exploram as profundezas de uma gruta natural; as salinas na cratera de um vulcão ainda activo, em Pedra de Lume, local parado no tempo, onde se destacam os edifícios compridos da arquitectura industrial, devolutos, lembram a actividade de outros tempos, e as estruturas de madeira onde, em tempos, rolaram os baldes cheios de sal, testemunham um período de actividade próspera para quem ali trabalhou e viveu. Uma capela de paredes caiadas, alindada com uma barra azul, compõe o cenário.
Não foi preciso andar muitos mais quilómetros para perceber que a Ilha do Sal não vive só de suspirar pelo passado. As recordações, povoa-as a população com o tempo em que ainda chovia e, entre outras culturas, se colhiam espargos. Daí o nome da cidade mais importante. A povoação, onde estão sedeadas as instituições, tem uma entrada a norte que não a favorece. As ruas não estão asfaltadas e as casas erguem-se à medida das posses de quem meteu mãos à empresa de as construir: primeiro o piso térreo, que pode ter pintura exterior ou não. De seguida, surgirá o segundo piso, quando houver possibilidade monetária.
Para aceder ao miradouro da cidade, junto ao edifício onde se situa o radar do controlo aéreo – como explica o guia – rolamos por uma estrada íngreme. Ao lado da porta de ferros retorcidos que, de deformada, não pode fechar-se, o guarda das instalações dorme ao sol inclemente. O guia faz um gesto largo para mostrar uma vista ampla sobre a cidade: à direita, a zona mais pobre, o emaranhado de ruas e casas sem aparente plano. À medida que se vai olhando para a esquerda, as habitações melhoram, exibindo grandes contentores de plástico nas açoteias. É que em Espargos, à semelhança de toda a ilha, não existe sistema de canalização para as habitações e a água é disponibilizada a dois euros a tonelada por uma empresa privada.
A falta de água não parece ter intimidado as empresas estrangeiras que, um pouco por todo o lado, exibem em diferentes fases de construção, novos resorts turísticos, um deles mesmo anunciando um campo de golfe. Afinal, a água que abastece a ilha é tratada e dessalinizada, ficando a engarrafada para consumo, nomeadamente dos muitos turistas que, ao longo de todo o ano, acorrem, num entusiasmo que não esmorece, aos hotéis de cada vez maiores dimensões que estão a surgir na costa.
Contrastando com a populosa Espargos, Santa Maria exibe todos os sinais de uma cidade que vive exclusivamente para o turismo, onde um apartamento já pode custar 100 a 150 mil euros. Ruas largas de traçado regular, lojas, restaurantes, hotéis, bares e cibercafés. O acesso à rede paga-se às fatias de hora (quarenta minutos a 1 euro, dizem-nos). À noite, se não fosse a incrível diversidade e pujança da música local a fazer a diferença, os bares podiam parecer-se com incontáveis outros espalhados pela costa algarvia e da Sul de Espanha. O prato de resistência não inclui só música cabo-verdiana, mas o inevitável karaoke e acolhe também nomes de sonoridade europeia que estão a encontrar no local um inesperado e bem-vindo mercado de trabalho.
O guia Mamadou vai desfiando dados sobre a ilha, procurando satisfazer a nossa curiosidade. As etnias, dados económicos, notícias sobre o andamento dos empreendimentos imobiliários, o arrojo das empresas que se instalaram na Ilha do Sal com os negócios mais arriscados e inovadores (como estufas de relva), e que nos fazem pensar que, havendo vontade, nada é impossível. E vai fazendo revelações, em conversa solta. Que em Cabo Verde, a população não tem por hábito celebrar casamento de maneira formal.
O que fica de uma visita de oito dias e sete noites? Uma quantas anotações, colhidas ao acaso no que ficou gravado na memória. Praias bem cuidadas e outras ao abandono, onde a autarquia deixa ficar o lixo; a construção a avançar pela paisagem árida; as baías, ora de pedra vulcânica, ora de areia branca, carregadores que disputam clientes europeus e reclamam moedas «para comer uma canja»; o ritmo contagiante da música, a sonoridade do crioulo local; frases ditas por gente sábia, ainda que nova na idade: «Eu não li livros, mas sei fazer coisas»; uma aliança bem conseguida entre a cultura local e a europeia, que fornece, aliás, os contingentes mais respeitáveis de turistas; cabo- verdianos que acreditam que o seu destino é sair da terra, outros que não. Uma estimável relação com Portugal, que os faz torcer pelo Benfica «até que a morte nos separe».
E a forma como as actuais investidas do investimento estrangeiro se cruzam com a soberania local, devendo os detentores dos órgãos de poder avaliar com critério as propostas que se apresentam, a favor das que permitam o desenvolvimento sustentado. Assim possam decidir com critério e no interesse das populações locais. "
Momentos depois, as portas da carrinha deslizam ligeiras, abrigando-nos do sopro da noite salense. De olhos muito abertos e sôfregos, procuramos na escuridão algo que identifique o local. Nada. São quilómetros de areia e pó, arbustos só no recinto do hotel. Alguns candeeiros ladeiam a estrada direita, a monotonia é apenas interrompida por rotundas a uma cadência regular.
No domingo, deixámos por conta de Mamadou o critério de uma volta à ilha: Palmeira, um local de ruas largas e também estreitas e onde só as centrais têm empedrado. O Salão Lena tem as portas fechadas, o que não é para admirar, pois é domingo e os poucos transeuntes atravessam-se à frente do jeep do nosso guia com a tranquilidade de quem sabe que ele vai esperar pela oportunidade para avançar. Sugiro um pensamento em voz alta, de que a vila se parece com o que terá sido Carvoeiro há uns 50 anos atrás. Não consegui o consenso da companhia, para quem Palmeira não se parece com lugar nenhum, a não ser consigo.
No Sal, senti-me sempre em casa. O bebé, cabelo encaracolado muito curto balouçou as pernas no assento improvisado dos meus braços. Não estranhou que uma visitante, agora mesmo entrada na loja de artesanato de chão de cimento, lhe tivesse pegado, sem motivo aparente. Conversámos os dois numa tagarelice incompreensível de monossílabos.
Ignorei os pedidos da Marta, receosa de que a anfitriã não achasse piada ao meu súbito assomo de saudades de pegar num bebé de colo. Mas a mãe dos dois pequenos (a menina gatinhava no chão) não pareceu incomodada com a inesperada manifestação de afecto. Guiou a Marta pelas prateleiras cheias de estatuetas de madeira nobre, iguais a tantas outras que existem nas lojas de artigos étnicos dos centros comerciais em Lisboa. Ia informando: 15 euros, 25 euros. A Marta pegava numa e trocava por outra, antes de se decidir, como se nunca tivesse visto artigo semelhante. Figuras femininas grávidas de fardos à cabeça, velhos alquebrados, instrumentistas musicais. Eu embalava o pequeno.
Mamadou, o guia, esperava paciente fora da loja, trocando frases soltas em crioulo com conhecidos locais. Estávamos em Palmeira, a manhã ia alta, celebrava-se uma missa campal no largo da povoação, à beira-mar. Pelo caminho, foi satisfazendo a nossa curiosidade em relação a um monte de coisas. Já confirmara que, na Ilha do Sal, todos se conhecem.
O nosso cicerone incluiu criteriosamente todos os locais de interesse da ilha no circuito. Murdeira e Buracona, onde mergulhadores exploram as profundezas de uma gruta natural; as salinas na cratera de um vulcão ainda activo, em Pedra de Lume, local parado no tempo, onde se destacam os edifícios compridos da arquitectura industrial, devolutos, lembram a actividade de outros tempos, e as estruturas de madeira onde, em tempos, rolaram os baldes cheios de sal, testemunham um período de actividade próspera para quem ali trabalhou e viveu. Uma capela de paredes caiadas, alindada com uma barra azul, compõe o cenário.
Não foi preciso andar muitos mais quilómetros para perceber que a Ilha do Sal não vive só de suspirar pelo passado. As recordações, povoa-as a população com o tempo em que ainda chovia e, entre outras culturas, se colhiam espargos. Daí o nome da cidade mais importante. A povoação, onde estão sedeadas as instituições, tem uma entrada a norte que não a favorece. As ruas não estão asfaltadas e as casas erguem-se à medida das posses de quem meteu mãos à empresa de as construir: primeiro o piso térreo, que pode ter pintura exterior ou não. De seguida, surgirá o segundo piso, quando houver possibilidade monetária.
Para aceder ao miradouro da cidade, junto ao edifício onde se situa o radar do controlo aéreo – como explica o guia – rolamos por uma estrada íngreme. Ao lado da porta de ferros retorcidos que, de deformada, não pode fechar-se, o guarda das instalações dorme ao sol inclemente. O guia faz um gesto largo para mostrar uma vista ampla sobre a cidade: à direita, a zona mais pobre, o emaranhado de ruas e casas sem aparente plano. À medida que se vai olhando para a esquerda, as habitações melhoram, exibindo grandes contentores de plástico nas açoteias. É que em Espargos, à semelhança de toda a ilha, não existe sistema de canalização para as habitações e a água é disponibilizada a dois euros a tonelada por uma empresa privada.
A falta de água não parece ter intimidado as empresas estrangeiras que, um pouco por todo o lado, exibem em diferentes fases de construção, novos resorts turísticos, um deles mesmo anunciando um campo de golfe. Afinal, a água que abastece a ilha é tratada e dessalinizada, ficando a engarrafada para consumo, nomeadamente dos muitos turistas que, ao longo de todo o ano, acorrem, num entusiasmo que não esmorece, aos hotéis de cada vez maiores dimensões que estão a surgir na costa.
Contrastando com a populosa Espargos, Santa Maria exibe todos os sinais de uma cidade que vive exclusivamente para o turismo, onde um apartamento já pode custar 100 a 150 mil euros. Ruas largas de traçado regular, lojas, restaurantes, hotéis, bares e cibercafés. O acesso à rede paga-se às fatias de hora (quarenta minutos a 1 euro, dizem-nos). À noite, se não fosse a incrível diversidade e pujança da música local a fazer a diferença, os bares podiam parecer-se com incontáveis outros espalhados pela costa algarvia e da Sul de Espanha. O prato de resistência não inclui só música cabo-verdiana, mas o inevitável karaoke e acolhe também nomes de sonoridade europeia que estão a encontrar no local um inesperado e bem-vindo mercado de trabalho.
O guia Mamadou vai desfiando dados sobre a ilha, procurando satisfazer a nossa curiosidade. As etnias, dados económicos, notícias sobre o andamento dos empreendimentos imobiliários, o arrojo das empresas que se instalaram na Ilha do Sal com os negócios mais arriscados e inovadores (como estufas de relva), e que nos fazem pensar que, havendo vontade, nada é impossível. E vai fazendo revelações, em conversa solta. Que em Cabo Verde, a população não tem por hábito celebrar casamento de maneira formal.
O que fica de uma visita de oito dias e sete noites? Uma quantas anotações, colhidas ao acaso no que ficou gravado na memória. Praias bem cuidadas e outras ao abandono, onde a autarquia deixa ficar o lixo; a construção a avançar pela paisagem árida; as baías, ora de pedra vulcânica, ora de areia branca, carregadores que disputam clientes europeus e reclamam moedas «para comer uma canja»; o ritmo contagiante da música, a sonoridade do crioulo local; frases ditas por gente sábia, ainda que nova na idade: «Eu não li livros, mas sei fazer coisas»; uma aliança bem conseguida entre a cultura local e a europeia, que fornece, aliás, os contingentes mais respeitáveis de turistas; cabo- verdianos que acreditam que o seu destino é sair da terra, outros que não. Uma estimável relação com Portugal, que os faz torcer pelo Benfica «até que a morte nos separe».
E a forma como as actuais investidas do investimento estrangeiro se cruzam com a soberania local, devendo os detentores dos órgãos de poder avaliar com critério as propostas que se apresentam, a favor das que permitam o desenvolvimento sustentado. Assim possam decidir com critério e no interesse das populações locais. "
Mais fotos de Cabo Verde aqui.
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