segunda-feira, 24 de maio de 2010

«Ser motor»

Ao fim de alguns anos de vida adulta cheguei a uma conclusão: sou um motor. E que quererá dizer isso?

Creio que há pessoas que nasceram para estar por trás da cortina, outras à frente e, outras ainda, que estão num plano intermédio, que corresponde ao "fazer acontecer" (expressão estranha esta se pensarmos bem). É onde estou. Ser motor é fazer com que as coisas aconteçam, reunindo as pessoas e escolhendo correspondências. E isto aplica-se no trabalho, claro, mas principalmente na vida pessoal, nas relações com as pessoas e a forma como gerimos o nosso tempo.

As vantagens de «ser motor» é que se prova o melhor gosto de ser um líder natural (sem ambições de o ser, ainda assim), e ser líder é tomar decisões, tentar adaptar as situações às pessoas, ou vice-versa. Um líder acaba por se habituar mal, porque na maior parte das vezes as coisas acabam por ser feitas à sua maneira e quando é contestado sente o sabor da injustiça, porque geralmente quem o contesta não propõe alternativas.

Um dia li algures que os líderes são sempre pessoas solitárias, apesar de reunirem muita gente à sua volta.

Por vezes acontece um certo cansaço, aqueles que estão por trás da cortina nem sempre se apercebem o quão desgastante é tomar decisões a toda a hora, em prol de um grupo de pessoas, ou de uma só até. E seguem descomprometidas, despreocupadas, desprendidas, à espera que alguém lhes tome a decisão de suas vidas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Surf #1

Amanhã entro na água às 8,30. O nível do meu surf ainda é tremendamente artesanal, mas penso que nunca é tarde para se começar a fazer uma actividade que nos move. Á água move-me de alguma maneira, onde ainda não há palavras para concretizar. Mas saberei fazê-lo.
O fim de semana parece muito maior quando acordo ao Sábado de manhã cedo. E dormir já não se me afigura o melhor para se fazer com dois dias sem trabalho.

Fotografia de Brian Bielmann , fotógrafo dedicado a estas coisas da água!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

mini-post #12 - Tive uma ideia

Todas as manhãs ao subir as escadas para apanhar o comboio em Belém olho para a esquerda e vejo os progressos das obras para o futuro Museu dos Coches. Quem dera que tivesse tido esta ideia há mais tempo: todas as semanas vou fotografar aquela área e perceber a sua evolução até estar pronto!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Envelhecer

Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice.

Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim', o livro que leio actualmente.




Hoje vi um senhor à janela, pareceu-me de olhar perdido. Ou talvez seja uma mera suposição minha a atirar para o poético.
Ocorreu-me que não tenho vontade nenhuma de envelhecer e chegar a uma idade (exemplo que me surgiu: 70 anos) em que as pessoas que povoam o meu imaginário já não são vivas, serei eu, na altura, (ao menos isso espero) a povoar o imaginário de outrem. Como será fazer parte da geração mais nova de uma família e isso acabar? Não sei e gostava de não saber nunca. Mas para lá caminho. Divagações próprias de Marte.
Esse senhor que estava à janela meditava talvez, ou pensava o que lhe reservaria o dia livre de obrigações laborais, disse bom dia, quase simpático, quase. Ao ser interpelado, há dias, por mim, surgiu nele uma simpatia que lhe desconhecia, convidou-me a entrar em sua casa e disponibilizou-se para me ajudar num problema que me surgira. Os vizinhos servem para estas coisas.
Continuo a pensar o que é isso de envelhecer, carregar com a idade e os problemas que a mesma traz. Será que a boa-disposição se vai diluindo? É agora que digo no final da casa dos 20's que queria ficar forever young. Acho que é a partir do momento em que estes assuntos nos ocupam nem que por minutos o pensamento que começamos a sentir o "envelhecer". A ver um cabelo branco aqui e ali a sentir que na rua, à noite, somos pais de alguns míudos, que de copo na mão se julgam crescidos.
Aquele senhor é velho, não só carrega a idade como todos os problemas que com ela vieram. Quebrou-se um pouco, nota-se nas costas mais curvas, nota-se o olhar confuso, vago.
Mas a ajuda manteve-se e desde que o vejo à janela, depois daquele dia, mesmo que não me sorria eu sei que o faço.
O sorriso traz-nos alguma juventude, talvez.