quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O Gosto dos Outros

Sobre o gosto há muito a dizer.
Em primeiro lugar temos o chavão:"O gosto não se discute", tal como muitos outros com os quais somos diariamente presenteados na Língua Portuguesa. Penso que há uma fronteira muito ténue entre a discussão do gosto, e a atitude de mutismo perante assuntos polémicos. Se falamos, não respeitamos. Se nos calamos não temos opinião.
A verdade é que o gosto define-nos mas se o discutimos, em última análise, estamos a questionar a nossa própria definição. Não será?
Haverá gostos melhores que outros? Acho que sim, até porque a minha sobranceria intelectual faz-me acreditar que o meu gosto é melhor do que o de alguns, e há gostos dos outros pelos quais tenho um enorme respeito, e outros, enfim, nem tanto.
Talvez os gostos sejam mais discutíveis quando há realmente um fosso de qualidade nas escolhas entre pessoas que se movem em meios idênticos, ou seja, se eu tenho um amigo que gosta de Tony Carreira é natural que discuta com ele a sua qualidade musical, a sua qualidade poética. Mas não estará ele no direito de gostar de Tony Carreira? Claro que sim. Mas uma pessoa que goste de Tony Carreira diz muito da sua audácia intelectual. Serei arrogante? Pseudo qualquer coisa?
Se prefiro a Bailarina de Miró ao Grito de Munhen há qualquer coisa em mim que o explica, se bem que olho para a arte não numa perspectiva estruturada, mas meramente intuitiva. Ainda que não ache mau gosto uma pessoa gostar do Grito. Mas em relação à música é diferente, se gosto Massive Attack e não gosto de James Blunt deve-se provavelmente ao facto de ter ouvido muita música até agora e perceber que James Blunt não tem apuro musical, não tem qualidade, não tem nada onde possa reconhecer o mérito. Mas quem gosta de James Blunt vê nele alguma coisa. Posso criticar?
O gosto dos outros é tão delicado quanto a sua discussão, por isso nunca conseguirei chegar a uma conclusão, a um ponto definitivo. Acho que sim, que se deve discutir, mas depois chegam-me uma certa de pruridos com os quais não sei lidar. Deve ter a ver com a forma como ponho a minha arrogância em causa.
E sim, sou arrogante.


E aqui ponho a letra de uma música do Tony, que escolhi aleatoriamente, é ou não um grande poeta, caramba!!

A sombra do adeus no teu olhar,Revela tudo o que eu estava a pensar,Não é preciso mais, já entendi É desta que te vais, sinto que sim.A s roupas arrumadas tu já tens E um carro à tua espera, sim eu sei E a porta vai-se abrir, e tudo acaba aqui Depois acabo eu sem ti também.(Refrão)Porque eu morro Se passa um dia só e não te vejo Nem oiço a tua voz quando chamar por tiComo é que eu vou viver, viver assimPorque eu morroSe acordo e tu não estás na minha vidaSem ter o que me dás, o que vai ser de mimPor certo vou morrer, morrer sem tiSem tiQuis por-me de joelhos a teus pés Fazer chantagem como tanta vez Mas nada me valia eu entendi Por nada deste mundo ficavas aqui Restou-me então fingir estar tudo bem Desejar-te o melhor que a vida tem E a porta se fechou, e então tudo acabou Como eu vou acabar sem ti também

PS: O título do post é uma clara alusão ao filme com o mesmo nome!

4 comentários:

Ana Saraiva disse...

Cheira à elitismo por aqui!
Viva Tony Carreira, quadros com meninos a chorar, margarida rebelo cheia-de-pinta e etc. Prevejo que serão os novos "musts" daqui a uns anitos, por uma reviravolta no mundo da arte-carcanhol. E todos os que arrepiam o lábio de horror perante a cóltura de massas-moles passarão (verbo de muito mau gosto!)a venerar Ana Malhoa, a Boa, e desprezarão, sei lá, Callas, a chata!
Hermético... isso não é um tipo de tupperware?

Mónica disse...

tirando um ou outro detalhe subsescrevo inteiramente e tenho aqui mais lenha pra fogueira das vaidades :DDD

lembro-me perfeitamente do esquecido telejornal e do locutor que fazia o balanço diário dos concertos pimba durante um verão já há séculos..à música pimba junta a literatura paulo coelho (digo sempre o mesmo nome pq n fixo os nomes dos outros :P) à pintura da paisagem casinha e barquinho (desculpem lá os clássicos) ao ballet das ex-sovieticas-republicas, chupas-chupas etc etc

por mim é revelador da pessoa

isto não é pejorativo! é uma escolha que eu não escolho, apenas isso!

Mónica disse...

e respodendo à pergunta: o gosto discute-se, conversa-se e sobretudo aprende-se.

aqui resulta bem "quem não sabe é como quem não vê"

Martini disse...

e-clair: Elitismo?! Seja! Assumido, ainda assim. Será pecado?

A minha vénia perante margaridas e tonis, anas e afins é pouco curvada! :)

mo: Porque misturar ballet russo com música pimba?:P