terça-feira, 20 de novembro de 2007

Coisas da Life!


O quotidiano de um desempregado de sucesso tem como base dois pilares: enviar o maior número de CV's possível, para apaziguar o conflito interno da inutilidade; e ocupar seu tempo com afazeres intelectualmente estimulantes, para a mente não sucumbir ao fracasso do desemprego.
Como desempregada de sucesso que me considero, o envio de CV's está na ordem do dia. O pior é quando as recusas são tantas que perde a piada enviar CV's. Já pensei em enviar cartas de apresentação fora do comum, sem ter aquela conversa de treta habitual, com melhores cumprimentos no fim e espero de volta a resposta.
Hoje olhei para aquilo a que chamo resumo da minha vida académica e profissional, com uns pozinhos floreados que o modelo europeu sugere, e não pude deixar de pensar que tenho que alterar todas as informações que ali estão, de forma a que quem o leia, não levante as sobrancelhas com ar pesado, faça um hesitante som unindo a língua ao palato e diga "Pois...licenciada em História...complicado". O curriculum vitae condena-nos à banalidade, a sermos números, com informações diversificadas mas que se enquadram num padrão. Mas porquê um padrão? Se o que uma entidade, seja ela uma empresa ou um organismo público, quer é o melhor a desempenhar aquela função?
É muito complexo ser-se licenciado em História em Portugal. Foi-nos associado um estigma que será muito difícil de derrubar, por vários motivos, não somos licenciados de excelência, não temos nada para dar à sociedade, senão um entendimento estruturado do passado que a sociedade julga pouco importante.
É, realmente, transversal na nossa sociedade a opinião que um licenciado em História não é capaz de fazer mais nada para além do mundo académico, para além de bibliotecas, de arquivos, de museus... Porque será que os licenciados em História e afins são tidos como gente estranha, old fashion, e outros estigmas associados?

A verdade é que não temos cultura para absorver licenciados em ciências sociais num mercado de trabalho dinâmico e plural. E nós próprios acabamos por ser vítimas dos preconceitos dos outros e é dessa forma que eu acho que o meu resumé tem que mudar. Mudar para que a pessoa que o leia perceba que há mais do que ser licenciado em História, muito mais do que isso. Porque eu não sou apenas capaz de fazer uma investigação, organizar uma biblioteca ou um arquivo, trabalhar num museu, sou capaz de fazer mais coisas, muito mais. Ainda que a minha licenciatura seja tão limitativa quanto a minha situação actual.
Por vezes apetece-me simplesmente entrar por uma agência qualquer de comunicação, ou uma empresa dessas de topo e dizer que não saio dali enquanto não provar o meu valor!



5 comentários:

Ana Saraiva disse...

Sugiro enviar o CV para outros países... arejar faz bem e "cá fora" há gente mais aberta e empreendedora.


E, Boa sorte!

Mónica disse...

pois eu acho esta última ideia genial

maria joão martins disse...

Força, amiga, estamos aqui!

manhã disse...

não desesperes, uma licenciatura em história é sempre um motivo de orgulho ,não esquecer.
A minha irmã tem licenciatura em história, trabalha na câmara, iniciativas, precisam-se, começar qualquer coisa.bjo

Martini disse...

e-clair: obrigada pela visita. É uma hipotese, é, é!

mo: Então desaparecida, tá boa? e blog novo?:P

mjm: obrigadinhos!

manhã: eu não desespero, não!
Orgulho-me, claro. Os outros é que não. Enfim, há-de chegar quelque chose!

Obrigada everyone!