quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Re-Editing

Pergunta-me como é a escrita que me apraz. Penso um pouco e respondo que é uma escrita limpa.
O que é uma escrita limpa?
Não sei. É uma escrita simples, ainda que se detecte o interior das palavras para além do óbvio. Uma escrita corrida, ainda que tenha pausas e nos faça repousar. É a expressão simples de quem a escreve.
A escrita limpa, para mim, é aquela que consigo acompanhar, são palavras que quero e que tenho junto de mim.
É escrita que me enche e preenche. Aquela que repousa na cabeceira, ao lado do candeeiro. Aquela que ainda vou encontrar nalgum livro perdido que me vai prender, são as folhas pelas quais vou passar as mãos e quase sentir a textura das palavras...e o cheiro.
No fim, as palavras são as mesmas...
E penso que deveria escrever como nunca escrevi...Depositar nas palavras tudo o que surge, tudo o que é. Deixar cair os dedos nas teclas pretas, bater nas letras à velocidade das sinapses a comunicarem umas com as outras. Falar do que penso, não pensar no que falo. Elaborar, escrever sobre o que surge, escrever sobre o que há em mim, o que poderá haver. Buscar cá dentro tudo o que tenho e, dessa forma, entrar no processo catártico de cura. Curar-me a escrever, sentir tudo, saborear as palavras, as frases, os textos. Pensar nos pontos, nas vírgulas, nas interrogações, nas exclamações, mas pensar, ainda mais, nas reticências, nas palavras que ficam por dizer, como nos olhares em silêncio que nos dão o impulso.
Escrever. Todos sabemos escrever. Aprendemos a desenhar letras na escola, aprendemos a copiar. Tudo o que escrevo não é meu, é nosso, se não houvesse o nós não escreveria, porque tudo o que surge e tudo o que deposito nas teclas pretas é a fusão, a fusão de mim e os outros, a fusão das palavras com as palavras dos outros, e no fim, a fusão de vários textos, que vão originar o meu.
E escrevi, mesmo que não preste, mesmo que ninguém goste, escrevi, e nas palavras canalizei um pouco do que sou. Mesmo que não sejas, na verdade. Vou sendo.
[Será bom bom ir buscar textos antigos? A um Blog que perdeu o fio? Faz tudo sentido, ainda por cima.]

2 comentários:

manhã disse...

escrever para os outros e para o outro de nós. já se disse quase tudo e quando dizemos é como se fosse a primeira vez. depois escrever fixa o que é volátil e transitório. já nos conhecemos pela escrita, sinto-te triste, espero que passe e que passe .bjo

Mónica disse...

etiqueta perfeita :D