quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ele escreve.
Tem um caderno preto, com linhas horizontais e verticais, que se cruzam. A caneta importa-lhe tanto quanto a forma como desenha as letras, a superfície tem que ser rugosa, o papel deve criar alguma resistência à passagem da tinta. São, talvez, idiossincrasias. A sua letra vem do antigamente, daquele tempo em que na escola se ensinava a desenhar as letras.
Escreve sem pudores, sem educação, sem métricas, regras ou conclusões. Tem um ar quase aristocrático, remexendo a barba, fumando sem saber das mãos. Os seus cadernos guarda-os sempre consigo, num saco que carrega para onde quer que vá. Organiza-os por datas, um para casa ano, talvez. Tem muitos, alguns queimou-os. Porquê, não sabe. O que escreve não importa, importa que escreve.

Ele é pobre. Não de espírito, mas quase na verdadeira acepção da pobreza, não tem casa, não tem poiso, ninho, um lugar onde voltar, um lugar quente, como nós. Mas escreve.
O que o fez não ter tecto? Gostava de saber. Como se chega ao limite de não ter o lugar que é nosso, onde repousam as nossas coisas? É tão inquietante: a pobreza.

Embora necessite não pede. Mas escreve, às vezes sem nexo, outras com tanto. E lê? Não. Então como escreve?

3 comentários:

manhã disse...

bom natal martini! muitas prendas boas!

manhã disse...

bom natal martini! muitas prendas boas!

Martini disse...

Obrigada manhã :)

Igualmente! Um beijinho