quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Fui desejar Bom Natal à Loja do Cidadão

As minhas regulares visitas a repartições de finanças e serviços afectos ao Estado têm, na maior parte das vezes, um aspecto trágico-comico que não posso negar, muito menos deixar de registar. Possivelmente esse carisma é de minha exclusiva responsabilidade e autoria, mas que fazer perante os factos, senão interpretá-los!?
Senão vejamos: a minha visita à loja do cidadão hoje era tão simples quanto o tempo que demorou, não menos do que 50 minutos, o que para loja do cidadão é uma média invejável; mas considerando a época festiva em que nos encontramos, penso que será um factor atenuante na súbita eficiência do dito estabelecimento.
Quando tirei a senha para ser atendida na repartição de finanças, o quadro marcava não menos que 20 números em relação àquele que estava impresso no papel (valioso por sinal) que me calhou.

Ok sento-me aqui e leio enquanto espero.

5 minutos depois... 

Aquela senhora tem um ar assustador, espero não calhar na mesa 6...

À medida que os números seguiam o seu curso habitual, o rebuliço continuava. Até que chegou o meu número: 229, mesa 6. Como sou uma miúda previdente já levava o BI e cartão de contribuinte na mão. Era só chegar dizer à senhora que queria abrir actividade, o nome da mesma e entregar os documentos. O nosso diálogo não poderia alongar-se muito mais. Dei a informação toda! 


O que a traz cá?

Boa tarde, venho abrir actividade.

Vou precisar do seu NIB?

Por esta é que eu não esperava, NIB?! O Estado agora quer controlar a minha conta bancária? Mas porque raio?
E não é que a senhora, que tinha um ar menos assustador do que inicialmente previ, ficou calada a olhar para mim?! Devia esperar por alguma reacção. Alguma reclamação talvez? Certamente não seria a primeira.

Olhe que eu não faço nada sem o seu NIB! 
Disse-me com um tom sarcástico não assumido.


E agora ria-se, mas ria-se porquê?


O multibanco é já ali,
apontando para um não-lugar, já que tive que dar umas voltas para o encontrar.

Então espere lá aqui um bocadinho que vou buscar o NIB...

E assim a deixei dirigindo-me ao multibanco.
A minha tendência em filas é muito clara, há sempre alguém à minha frente, quer seja no supermercado ou no multibanco que faz operações muito complicadas. A senhora deve ter pago umas três contas, tira cartão, põe cartão, tira cartão, põe cartão, e volta a por para ver o saldo. 

Quando voltei estava outro senhor a ser atendido, perante a minha estranheza, a senhora, perspicaz, decerto, com um sorriso estranho atalhou: não me esqueci de si. Pudera queria o meu NIB!
Quando me sentei fiz um gesto muito claro, com o NIB na mão, pedi-lhe uma explicação, quase chantagem, onde é que já se viu?! Chantagem com o Estado.
Ela tinha uns óculos muito modernos e um ar quase anafado que lhe dava uma suposta simpatia respondeu-me prontamente que era uma obrigação.

Pois mas uma obrigação não é uma explicação...

Por esta é que não esperava!

Hesitante... 

Olhe...

Sim...

Se ficar em falta nós vamos-lhe à conta! Contente?

Ah pronto, assim está melhor, uma explicaçãozita fica sempre bem. No antigamente é que não havia explicações.

Você sabe lá o que foi o antigamente...

Enfim. Saí de lá com o dever cumprido, sabendo que agora o Sócrates tem o meu NIB e se por algum motivo falhar, zás! Vai-me à conta. Terminámos a conversa a assinar uns papéis com a digna trabalhadora da repartição de finanças a tratar-me pelo meu apelido. O que no mínimo foi estranho, mas tendo em conta que há sempre qualquer coisa bizarra nestas visitas, tratar-me pelo apelido não foi o pior.



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