Há uma série de coisas que me ocorrem para classificar esta situação, mas em primeiro lugar a minha estupefacção tem uma dimensão proporcional à importância que deram a este caso. E antes de pensarmos no que se passou ali, acho que temos de pensar porque é que aquilo se passou.
A proibição é sempre um território pantanoso, que dá azo a contestação. Lembro-me das ondas que se levantaram quando, há 8 anos, frequentando eu o 12º ano, foi proibido o uso do telemóvel, não apenas na sala de aula, mas na escola inteira, muitas vozes se levantaram. Em todo o caso sempre achei que deve haver uma margem de sensibilidade por parte do aluno e entender que há certas coisas que não são compatíveis com o ritmo habitual das aulas.
A ideia que me dá é que nesta escola no Porto não houve essa preocupação. Se a indignação daquela aluna é tão grande perante a atitude da professora, naturalmente o uso do telemóvel era normalizado na sala de aula; tanto seu, como dos colegas, que de barriga cheia, qual freak show, assistem a esta violência dirigida à professora. Pouco fazendo para evitar o confronto.
Por outro lado surpreende-me muito a atitude desta professora que mostra aqui ser o elo mais fraco de todo este triste enredo. Um professor não pode sucumbir à violência de um aluno e reduzir a sua atitude ao simples facto de estar a medir forças com uma pessoa que nem é maior de idade. Mas como fazer isto?
O conjunto de referências que tive ao longo da vida tem especial carinho pelos professores, que desempenham um papel crucial na nossa evolução em fases determinantes. Ora, essas mesmas referências ensinaram-me que o respeito coexiste alegremente com um ambiente saudável de transmissão de conhecimento. Obviamente conheci professores que nunca tiveram "pulso" nos alunos, faltava-lhes talvez o carisma, o ascendente, aquela aptidão especial para cativar. Mas questiono-me como pode uma professora, por menos ascendente que tenha perante os alunos, chegar a este ponto em que mede forças com uma aluna.
Por último ocorre-me dizer que a tecnologia tem os seus efeitos perversos, mas certamente não estaríamos a falar sobre este assunto se não fosse um telemóvel e um site de vídeos.
Gostava de saber se os alunos em causa aprenderam alguma lição com tudo isto. E gostava também de saber se os alunos deste país e desta mesma geração, que agora está em discussão, tiveram capacidade para reflectir sobre o que se passou e o que se passa actualmente nas escolas. Se esse vídeo servisse para isso, já tiraríamos qualquer coisa de positivo desta muito triste situação.